segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Sebastião Ferreira, notável professor e digno fundador da Mutualidade Popular de Faro

Sebastião Ferreira
Recordo hoje o professor Sebastião José Ferreira, um notável professor primário, que educou gerações no elevado sentido do termo educare, isto é, formar e modelar o carácter das crianças, transmitindo-lhes valores éticos e morais, indicando-lhes o sentido da fraternidade e do bem comum. É hoje uma figura absolutamente ignorada, quer em Loulé, sua terra-natal, quer em Faro, onde pontificou um lugar de destaque na sociedade do seu tempo através da fundação da Mutualidade Popular, uma espécie de sindicato e montepio da classe dos professores primários no Algarve.
Sebastião José Ferreira, foi professor e inspector do Ensino Primário. Nasceu em 1880, na progressiva vila de Loulé, e veio a falecer em Lisboa (na casa de seu genro, o conhecido e igualmente muito estimado Dr. Faustino Vidal) a 14-10-1953, com 73 anos de idade.
Como professor primário chegou a desfrutar de certa proeminência social, não só pelas suas naturais aptidões para a docência, como ainda pela forma afável e compreensiva como tratava as crianças, sobretudo nos momentos cruciais da sua avaliação final, já que Sebastião Ferreira foi examinador regional da instrução primária, qualidade em que percorreu diversos estabelecimentos de ensino. Sabemos também que desempenhou o seu múnus profissional em vários pontos do Algarve, após o que se fixou em Faro, onde mercê das suas qualidades humanas e profissionais recebeu justíssimos louvores dos seus concidadãos, que lhe reconheceram atributos de honra e de bondade dignos da maior reverência. A sua experiência e competência profissional valeram-lhe a tão honrosa quanto justa nomeação para o cargo de Inspector do Ensino Primário, que julgo ter exercido quase exclusivamente no Algarve, e em cujas funções se reformaria pouco antes de se declarar a doença que lhe roubaria a vida.
O prof. Sebastião Ferreira, tornou-se pelo seu diamantino carácter numa das figuras mais distintas de Faro, não só pela dedicação à educação das crianças, como particularmente com a situação económica e profissional dos seus colegas, de cujo desempenho dependia a formação intelectual e social das gerações futuras. Por essa razão foi convidado a participar nos corpos gerentes da Mutualidade Popular de Faro, que ajudara a fundar, e que era uma espécie de montepio dos professores primários. A essa brilhante instituição, que ainda hoje existe, prestou assídua colaboração, devendo-se-lhe os mais valiosos e relevantes serviços.
O seu carácter bondoso e afável, as suas atitudes de constante e discreta benemerência, não lhe deixavam ter rivais nem inimigos, criando à sua volta uma verdadeira onda magnética de empatia social. A bem dizer toda a sociedade farense da primeira metade do século XX, tinha pelo Prof. Sebastião Ferreira, uma profunda amizade, verdadeira estima e grande consideração.
Foi casado com D. Maria da Piedade Ferreira, de quem teve duas filhas, duas notáveis mulheres do seu tempo, que ainda tive o prazer de conhecer pessoalmente, refiro-me à Dr.ª Noémia Ferreira Nabais, ilustre médica que exercia clínica em Lisboa, casada com o não menos famoso Dr. Faustino Vidal Nabais; e à Dr. Nídia Ferreira Neto, advogada de sólida formação intelectual e cidadã da mais rara sensibilidade cultural, que foi delegada do Instituto Maternal do Algarve, casada com João da Silva Neto, um dos mais ricos proprietários do Algarve, que foi vereador da Câmara de Faro e director da Companhia de Pescarias do Algarve, da qual era um dos principais accionistas. O seu filho, o Dr. João Manuel Ferreira Neto, foi um dos mais prestigiados funcionários superiores da TAP, falecido no declinar deste século, poucos meses depois da morte da sua querida mãe, cidadã das mais ilustres de Faro.
Jardim Manuel Bivar, cerca de 1940

Vem a talhe de foice lembrar que a residência de Sebastião Ferreira e a vastíssima propriedade onde nasceu a Dr.ª Nídia Neto foram expropriadas pelo Estado, e por ínfimo valor, nos conturbados anos do pós “25 de Abril”, para nela se erigir o Instituto Politécnico de Faro, depois transformado em Campus da Penha da actual Universidade do Algarve. A casa apalaçada que hoje se encontra junto à avenida de acesso à estrada de Olhão, estava anteriormente situada nas imediações da actual Escola Superior de Tecnologia.

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