segunda-feira, 8 de maio de 2017

Uma figura do Iberismo, cônsul de Espanha em Faro

Panorâmica da antiga doca de Faro na década de vinte
Uma das figuras que permanece ignorada na cultura algarvia e até mesmo nas relações transfronteiriças luso-espanholas, é a de D. Álvaro Seminário, que nos princípios da sua carreira diplomática, precisamente em 1923-1924, exerceu na cidade de Faro as funções de Cônsul de Espanha. Durante essa curta passagem deixou no seio da elite farense um perfume de elegância, de donjuanismo, muito raro e invejável, numa sociedade ronceira e provinciana.
Em todo o caso, deixou sólidas amizades e uma grande admiração entre os mais recatados e ilustres farenses, para não falar já dos corações dardejados pelo traiçoeiro cupido, abandonados à pressa por uma retirada estratégica. 
Jardim Manuel Bivar e praça de táxis de Faro, anos vinte
Elegante e afável no trato, cativava facilmente amizades, até pela sua sólida cultura, aliás demonstrada no livro de memórias e sensações que publicou com o título de «España y Portugal - Incitaciones a una política de acercamiento espiritual», publicado pela famosa editora Espasa-Calpe, em 1940. Nesse livro deu relevo ao amor que sentia pelas duas pátrias que trazia no coração, advogando com sincera convicção a necessidade de estreitamento das relações políticas, económicas e culturais entre os dois países irmãos, dando como exemplo as opiniões de vários outros escritores, que haviam anteriormente sugerido um abatimento das fronteiras físicas em prol duma união intelectual da velha Ibéria. Essa ideia não era nova, pois já havia sido propalada nos anos setenta da centúria de Oitocentos, tendo então entre nós como principais defensores os mais conceituados intelectuais republicanos e socialistas, de entre os quais destaco Antero de Quental, Teófilo Braga, Júlio de Matos e Oliveira Martins.
Capa da obra de Álvaro Seminário
Na sociedade farense dos loucos anos vinte, Álvaro Seminário marcou posição de relevo, não só pela sua admirável educação como também pela sua cativante cavaqueira no Clube Farense, na Havaneza e nos cafés mais concorridos da cidade, onde fazia amigos com extrema facilidade. Pode mesmo dizer-se que foi um dos cônsules espanhóis que mais simpatias soube arrecadar na burguesa cidade de Faro.
Distinto funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Espanha, não admira que fosse galardoado com numerosas condecorações, de entre as quais assume particular destaque a Comenda da Ordem de Cristo com que o governo português o soube premiar pela leal amizade que dedicou ao nosso país.
Álvaro Seminário Martinez, de seu nome completo, após uma brilhante carreira diplomática, retirou-se da política no pós-guerra, na qualidade de Ministro plenipotenciário de Espanha para a América Latina, vindo a falecer na sua residência em Madrid, a 30-12-1950.
Embora não tivesse ocupado o melhor do seu tempo na escrita, sei que da sua autoria se publicaram ainda os seguintes livros:
Cuadernos de Derecho Consular, 1932; El consul de España en América, 1935; El doctor James Brown Scott y los teólogos españoles de los siglos XVI y XVII, 1946 [conferencia pronunciada por Álvaro Seminario, Ministro Plenipotenciario, director de política de América].

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