quarta-feira, 29 de junho de 2016

Corte-Real, Maria da Aprezentação Thereza Jacintha da Franca

Em Dezembro de 1814, o Tribunal do Dezembargo do Paço recebeu um requerimento firmado por D.ª Maria da Aprezentação Thereza Jacintha da Franca Corte Real, ao tempo viúva de Gil Vaz Lobo de Lemos Faria e Castro, fidalgo da principal nobreza de Faro, por causa de um processo relativo aos limites e confrontações do Prazo chamado da Torre, que lhe havia movido o capitão Francisco Xavier de Moraes, da freguesia do Alvor, no concelho de Vila Nova de Portimão, o qual reivindicava para si o direito e posse de uma parte do antigo, e já referido, Prazo da Torre, composto por terras de pão, de lavoura e de sal.
Palácio Pantoja, na Rua de Stº António, em Faro,
actual sede do Clube Farense, vendo-se a pedra
 de 
armas da família a encimar 
a porta principal. 
Julgo que estamos em presença da vasta propriedade que, já neste século, seria convertida em espaço de ocupação imobiliária de exploração turística, sob a designação de Torralta.
No requerimento apresentado por D.ª Maria da Aprezentação Corte Real contrapõe-se a nulidade das pretensões do capitão Xavier de Moraes, mercê do facto daquela propriedade, Prazo da Torre, se encontrar na posse da família Franca Corte Real "desde tempo que excede a memoria dos homens".
Julgo que esta senhora, D.ª Maria da Aprezentação, era natural de Faro, mas a radícula da sua família provêm de Tavira. Quanto ao seu marido, o fidalgo Gil Vaz Lobo de Lemos Faria e Castro, era filho do rico e poderoso Gil Vaz Lobo Freire Pantoja - notável proprietário rural, com interesses nas pescas, na marinha mercante e no trato mercantil, residente no palácio que ostenta a sua pedra de armas na rua de Stº António, onde hoje se encontra sediado o Clube Farense - cuja filha casou em 1733 com o seu primo, Damião António de Lemos Faria e Castro, ilustre historiador algarvio e uma das figuras mais distintas da cultura lusíada e do setecentismo português. 
O requerimento de D.ª Maria da Aprezentação, bem como a documentação a que me referi, encontra-se no Arquivo Nacional da Torre do Tombo,  núcleo do Dezembargo do Paço, secção do Alentejo e Algarve, Maço 517, doc. nº 13 e segs.

terça-feira, 28 de junho de 2016

AROUCA, Domingos Correia

Militar e farmacêutico, estabelecido em Faro onde residiu até ao seu falecimento ocorrido a 2-7-1953, quando contava 70 anos de idade.
Na vida militar chegou ao posto de capitão, no qual se reformou. Da vida castrense resultou a sua dedicação à farmacologia. Por outro lado, tinha especial propensão para o estudo da botânica, sendo até apontado como grande conhecedor das propriedades das plantas e da sua aplicação no combate das doenças.
Era irmão de D. Maria da Conceição Arouca, cunhado do Dr. Alexandre Pereira Assis, que foi médico municipal em Faro, e tio de D. Maria Isabel Arouca Assis Simões; de D. Maria da Conceição Arouca Assis Cardoso Vilhena, casada com o Dr. Arnaldo Vilhena, que foi Delegado de Saúde em Faro; e de D. Maria Alexandra Arouca Assis Marques dos Santos, casada com Francisco Marques dos Santos, residente em Lisboa.

domingo, 26 de junho de 2016

ANDRADE, José Damasceno de

Militar e funcionário público, era natural de Castro Marim, mas foi viver para a cidade de Tavira quando ingressou na vida militar. Fez a instrução castrense até ao posto de sargento, tendo mais tarde optado pela vida civil mercê de algumas desilusões, acrescida de alguma depressão pós-traumática dos tempos que viveu em África, defendendo os interesses nacionais em terras de Moçambique. Em Tavira foi um cidadão muito estimado, quase um herói popular, quando a morte lhe ceifou a vida através de um fulminante derrame cerebral. Faleceu a 8-12-1937, quando desempenhava as funções de escrivão da capitania do Corpo de Olhão, onde aliás era muito considerado, não só pela bondade de carácter e competência profissional, como ainda pelo seu prestígio social, já que era tido como um herói das nossas campanhas de 1895 em África, que culminaram com a submissão das tribos rebeldes e a prisão do célebre Gungunhana.
Painel azulejado de um dos bancos do jardim
1º de Dezembro em Portimão
José Damasceno de Andrade mercê das suas capacidades ascendeu ao posto de 2.º sargento do Regimento de Infantaria 4, tendo servido com grandes sacrifícios na expedição que em 1895, foi para a África Oriental combater as tribos que se havia rebelado contra a autoridade portuguesa, sendo por isso condecorado com a medalha de prata da classe de valor militar.

sábado, 25 de junho de 2016

ALEXANDRE, Manuel

Capitão do exército, natural de Faro que faleceu na vila de Olhão, para onde acabara de mudar a sua residência, a 31-1-1935, com 51 anos de idade.
As suas ideias nacionalistas, muito próximas dos novos movimentos ideológicos que despontavam na Itália e na Alemanha, tornaram-no conhecido das chefias militares que estiveram directamente envolvidas na revolução do “28 de Maio”, que em 1926 derrubou a democracia e instituiu a ditadura em Portugal. Não admira pois que tivesse sido aproveitado para desempenhar diversas funções políticas e administrativas ligadas à ditadura. Inclusivamente foi designado para presidir à comissão concelhia da União Nacional em Faro.
Assim, logo após o movimento do“28 de Maio”, foi nomeado governador Civil substituto do Algarve. E nos anos seguintes, ou seja entre 1927 e 1935, desempenhou vários cargos políticos, nomeadamente o de Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Faro, administrador do concelho de Olhão e depois de Portimão, tendo por fim, em 1933, aceitado o lugar de Delegado do Instituto Nacional do Trabalho no Algarve.
Faleceu repentinamente com um AVC, derrame cerebral, que o abateu em poucos minutos quando se encontrava a trabalhar. Foi casado com D.ª Maria João Martins Alexandre, de quem teve um único filho, Álvaro Manuel Alexandre, ao tempo aluno da escola militar. Era irmão de Aníbal Alexandre, farmacêutico que emigrara poucos anos antes para Pau da Bandeira, no Lobito, em Angola.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

ALBERTO, António Joaquim

Sacerdote, nasceu na freguesia de Odeleite, concelho de Castro Marim, e faleceu em Lisboa, a 16-7-1949, com 65 anos de idade. Era filho de D. Ana Seco Alberto e de Manuel António Alberto.
Estudou no Seminário de S. José, em Faro, onde se ordenou presbítero, sendo desde logo considerado como um jovem talentoso e uma das mais seguras promessas da diocese algarvia. Pelo facto de ser muito inteligente e dedicado à vida religiosa é que o bispo D. António Mendes Belo o incluiu naquela plêiade de sacerdotes algarvios, que o acompanharam até à solene cerimónia da sua consagração como Cardeal Patriarca de Lisboa. Ficaram todos na capital, auxiliando o antigo prelado do Algarve no difícil desempenho do seu múnus religioso. Aliás, quando ainda seminarista já o António Alberto se tornara no fâmulo de D. Mendes Belo, que nele depositava a maior confiança.
Cerimónia da investidura de D. António Mendes Belo, 
realizada a 5-3-1908, O p.e António Alberto é um dos 
acólitos junto às varas do pálio. (Occidente, de 10-3-1908)
No Patriarcado de Lisboa permaneceria como secretário particular do eminente purpurado durante 26 anos, servindo com o maior desvelo e competência, a ponto de o acompanhar a Roma na altura do Conclave de 1922.
Quando ingressou no Cabido da Sé Patriarcal dedicou-se aos serviços de assistência aos pobres, sendo pelas suas qualidades de gestão, e inquestionável seriedade, escolhido para tesoureiro geral da Obra das Vocações. Sempre muito activo e dedicado prestaria ainda relevantes serviços na Arquiconfraria do Santíssimo Sacramento das freguesias de S. Julião e de N.ª S.ª de Fátima, de Lisboa, da qual era, aliás, irmão benemérito.
Partiu da sua iniciativa a aquisição do Palácio de Santa Ana à Misericórdia de Lisboa, para nele ficar instalado o Patriarcado.
Possuía avultados bens de fortuna que à sua morte foram legados à Igreja, sendo por decisão testamentária doados ao seminário de Faro a importante quantia de mil libras.
Ficou sepultado no cemitério do Alto de S. João em Lisboa.
    O Padre António Alberto foi, e ainda deve ser considerado, uma das grandes figuras da patriarcal ulissiponense, mas também da diocese algarvia, infelizmente hoje ignorado e injustamente esquecido.

ASCENSÃO, António da Costa

Proprietário, comerciante e industrial, natural de Loulé, onde faleceu em Janeiro de 1947, com 70 anos de idade.
António da Costa Ascensão tinha espírito de iniciativa,  e, acima de tudo, possuía um carácter franco e amigável, honesto e tolerante, dotado de grande inteligência e inimitável capacidade de trabalho. Figura bastante conhecida em quase todo o Algarve, por manter laços de relacionamento e amizade com todos os seus clientes e fornecedores, além de que se preocupava muito com os mais carenciados, o que lhe proporcionava um capital de admiração social sem paralelo nas suas áreas de actividade profissional e de intervenção pública.
Panorâmica da vila de Loulé nos princípios do séc. XX
Foi director da antiga Companhia Industrial do Algarve, agente consular da França e sócio da firma Mealha e Ascensão Ld.ª, sem falar já nas várias empresas a que esteve associado tanto em Faro, como em Loulé, onde aliás possuía confortável residência e passava as suas férias. 
Para além do seu sucesso como empresário e industrial merece particular referência as numerosas acções de benemerência a que esteve ligado, razão pela qual a Câmara Municipal de Loulé, em sinal de gratidão, lhe atribuiu ainda em vida o nome a uma das artérias da vila.
Era irmão de D. Sebastiana da Ascensão Pablos, de José da Costa Ascensão e do Dr. Mariano da Costa Ascensão, que foram ambos, mas em diferentes datas, presidentes da edilidade louletana; sendo também tio do Dr. Leão Ramos Ascensão, jornalista em Lisboa, do Dr. Francisco de Ascensão Afonso, médico em Faro, do Dr. Raimundo Ascensão, advogado em Loulé, e de José João de Ascensão Pablos abastado proprietário e residente na mesma vila.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

FRANCO, Vicente Ferrer Maria

Tenente-coronel do exército, Vicente Maria Ferrer Franco, nasceu na cidade de Tavira a 11-8-1879, e descendia da conceituada família dos Francos, cujas origens julgo dependerem de uma corruptela do apelido Franca. Lembro que o tronco genealógico dos Francos é uma dos mais conceituados de Tavira e da zona sotaventina do Algarve. Desse tronco comum ramificam-se outras notáveis famílias algarvias, geralmente de origem tavirense, nomeadamente os Soares Franco, os Chagas Franco, os Pires Franco e os Franco Centeno.
Na carreira das armas, Vicente Franco foi sempre considerado como um oficial competente, embora algo irascível e muito autoritário, pouco simpático para os seus subalternos. Havia algumas queixas, por parte das praças e até de jovens oficiais, sobre as atitudes de poder e autoritarismo do cor. Vicente Franco. Por isso o afastaram para o desempenho de funções de administração e chefia das repartições militares, afastando-o da parada e da vida castrense.
Em todo o caso, foi sempre classificado como um valor seguro, exigente no exercício e cumprimento da disciplina e da ordem. Era um homem honesto e um oficial competente, que foi superando as exigências da carreira militar até ascender ao posto de coronel do exército. O seu carácter disciplinador e pouco moldável, fizeram com que fosse afastado do convívio das armas, sendo por isso colocado, em 1931, como Director da Manutenção Militar, em Lisboa, onde permaneceu até ao fim da vida.
Quando se encontrava em manobras militares no Vimeiro, ocorreu um triste incidente – foi vítima de uma agressão a tiro, por parte de um soldado, no decorrer das manobras de instrução militar. Após rigoroso inquérito apurou-se que as causas do ferimento mortal foram meramente acidentais. Embora socorrido e transferido para o hospital militar de Évora, aí viria a falecer com 58 anos de idade, em Outubro de 1937.
O coronel Vicente Maria Ferrer Franco, era casado com D. Maria da Conceição Caldeira Baptista, de quem teve três filhos: João Baptista Franco, casado com Maria Leonor, julgo que natural dos Açores; Fernando Baptista Franco e Jorge Baptista Franco.

Importa acrescentar que o cor. Vicente Franco era irmão do então Bispo do Algarve, D. Marcelino Franco, que na altura sentiu profundamente a sua morte, a tal ponto que se deslocou particularmente a Lisboa para assistir ao funeral daquele inditoso oficial superior do exército.

FREITAS, Luís de Mendonça

Comerciante, empresário da indústria pesqueira e proprietário rural. Era natural da freguesia de Santo Estevão, no concelho de Tavira, vindo a falecer na cidade de Faro em18-1-1953.Estabeleceu-se na cidade de Faro com um negócio de comércio e exportação de conservas, o qual manteve em crescente sucesso durante muitos anos, o que lhe permitiu mesmo vir a adquirir um cerco de pesca a vapor para incremento do seu negócio. Muitos dos lucros investiu-os na aquisição de propriedades no Alentejo.
Era um cidadão muito considerado e estimado tanto na cidade de Faro como na vila de Olhão, onde também mantinha interesses no sector da pesca.Era pai de D. Maria Isabel Cordeiro de Mendonça Freitas, do Dr. Manuel Cordeiro de Mendonça Freitas, António Cordeiro de Mendonça Freitas e Luís Cordeiro de Mendonça Freitas.

terça-feira, 14 de junho de 2016

MENDES, António Pires

Capitão do exército, natural de Loulé, que faleceu em meados de Maio de 1954, com 66 anos se idade, em Setúbal, onde desde há muitos anos residia.
Postal da época, revelando as condições de sobrevivência das tropas
portuguesas no front, pouco antes da batalha de La Lys.
Foi um militar prestigiado pela sua brilhante folha de serviços prestados à pátria, nomeadamente nos campos da Flandres durante a I Guerra Mundial. Pelos seus actos de bravura foi diversas vezes condecorado, ostentando as veneras militares com redobrado orgulho nos actos públicos em que se comemorava a I Grande Guerra e os mártires da pátria, especialmente no dia 9 de Abril, quando se homenageavam aos heróis da batalha de La Lys.
Era irmão do então já falecido capitão José Mendes Silvestre. Foi casado com D. Cândida Gomes Mendes.
O seu funeral realizado em Setúbal teve as merecidas honras militares.

PERRIER, Luís Augusto Leote d’Ayet du

Médico, natural de Albufeira. Era filho de Inês Leote de Ayet du Perier e de Jacintho Paes d’Ayet du Perrier, que foi secretário da Câmara Municipal de Albufeira durante décadas. As suas origens francesas remontam a 1833 quando um seu antepassado veio alistar-se nas tropas que defenderam a causa liberal. Pertenceu mesmo ao Batalhão Francês que em 24-6-1833 desembarcou na praia da Altura para sustentar no Algarve a causa pedrista. Cursou o Liceu de Faro e depois frequentou Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra, onde foi aluno brilhante. No 1.º ano médico foi o aluno mais classificado de Coimbra. Teve prémio no 1º, 2º e 4º, sendo, neste último, eleito sócio efectivo do Instituto de Coimbra. Formou-se em Medicina no ano lectivo de 1898-1899 e embora convidado para Lente da Universidade preferiu seguir a clínica estabelecendo-se em Cascais, onde fez várias palestras de propaganda contra a tuberculose. Exerceu também, nos últimos meses de vida, na Figueira da Foz, vinda a falecer na quinta da Mallavada, nos arredores de Coimbra, a 18-4-1908, com 38 anos de idade.
Na verdade, quando ainda era estudante universitário, foi-lhe diagnosticada a doença que o haveria de vitimar, a tuberculose, à qual dedicou o melhor do seu trabalho e inteligência.
Era casado com D.ª Albertina Martinho da Fonseca, cujas origens desconheço, e da qual ignoro se teve descendência.
Aliava à sua inteligência e probidade de carácter uma inexcedível lhaneza de trato, o que o tornava muito querido dos seus doentes. A fatal doença que trazia consigo foi a razão porque escolheu Cascais para se fixar e exercer a clínica. E o mesmo se passou quando por fim procurou alívio na praia da Figueira da Foz que conhecera nos seus tempos de estudante.

O «Diário Illustrado», vespertino muito conceituado que se publicava em Lisboa, consagrou-lhe em 1902 um artigo muito elogioso, ilustrado com um belo retrato.