terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Canellas, Ignez Carolina

Natural de Faro, que em idade avançada foi viver para Lisboa, onde viria a falecer a 28 de Dezembro de 1903, com provecta idade. Foi uma mulher bonita das mais admiradas da cidade, frequentadora dos palcos sociais mais selectos e requintados, mas também dos palcos da arte de Thalma, como o Lethes e o 1º de Dezembro, neles conhecendo António Vicente Canellas, um notável artista de comédia, que nunca se deixou seduzir pelo profissionalismo, para não deixar o lar materno. Apaixonaram-se, casaram por amor, e tiveram dois filhos, um casal. Criaram-se aqui, mas a vida e os negócios levaram a família para fora do Algarve, sem nunca deixarem de ser cidadãos de conceituada honradez moral e social.
Panorâmica do interior do Teatro Lethes
Para quem não sabe, o actor Canellas, como era conhecido, teve noites de retumbante sucesso nos teatros do Algarve e Alentejo, representando papéis cómicos de grande exigência artística. Nos anos sessenta do século dezanove, o teatro Lethes de Faro gozava de fama nacional. Dizia-se que a família Cúmano, proprietária do imóvel e da companhia teatral, gastara centenas de contos para manter um “foyer” de grande nível e um guarda-roupa muito superior, dizia-se, ao do teatro D.Maria. Muitos dos seus actores, músicos e cantores de ópera, seguiram as suas carreiras nos teatros da capital, alguns deles com estrondoso êxito, como a Dores Aço (natural de Silves, casada com o actor José Ricardo), a sua irmã Teresa Aço (que foi casada com o actor-empresário Afonso Taveira), e tantos outros. Quando a companhia do Lethes ostentava nos seus programas o nome do actor Canellas, era garantia de casa cheia. Vinha gente de todo o lado para vê-lo representar papéis jocosos que só ele sabia fazer. Ouvir os seus hilariantes monólogos de um acto era lavar a alma de riso e boa disposição.
Alegoria à musica, 
pintura no tecto do teatro
Era mãe do conceituado Alfredo Canellas, farense de coração que se apaixonara pela África, onde chegou aos corpos gerentes da Companhia do Nyassa, uma das mais ricas e poderosas do nosso império colonial. Teve também uma filha, entretanto falecida, que foi casada com o Dr. Vianna de Lemos, outra grande figura do seu tempo, director da famosa Companhia de Papel do Prado.
O féretro de Ignez Carolina Canellas ficou no cemitério dos Prazeres, depositado no jazigo de Augusto César Fernandes, amigo íntimo do filho, não mais regressando ao seu Algarve natal. Os seus descendentes são hoje pessoas de bem, com vida feita na capital, que talvez não saibam quão notável foi a vida dos seus ascendentes.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

«A Ministrada» Lacobrigense

Encontrei há anos na Biblioteca Nacional de Lisboa um interessante códice manuscrito sobre um episódio político ocorrido na cidade de Lagos em 1784. A época em que decorre a trama narrativa prendeu-me imediatamente a atenção, pois decorre no período historicamente designado por «Viradeira», isto é, nos anos subsequentes ao consulado pombalino. Está escrito em verso, repartido em cantos, como se tratasse de Os Lusíadas, em versão reduzida, num estilo crítico-jocoso. Ignoro o seu autor, porque nada consta que o identifique, o que me faz pressupor tratar-se de uma obra clandestina que nunca deve ter visto a luz do prelo.
Desse raro e valioso códice extratei um breve apontamento, no qual anotei os dizeres do rosto:
Brasão antigo de Lagos atribuído por D. Manuel em 1504
A
 MINISTRADA 
Poêma
 critico
dado á luz
Por hum amador da tranquilidade Lacobri- 
gence. Anno
MDCCLXXXIV. (1)

Trata-se de um longo poema épico repartido por seis cantos e dividido em estrofes, narrando certos acontecimentos populares, marcados por gestos de rebeldia e atitudes de amotinação colectiva, que aglutinaram a maioria dos habitantes de Lagos. A contestação popular dirigia-se principalmente contra um vereador e o Juiz de Fóra da cidade, que desempenhavam os seus cargos de forma despótica com violência e arbitrariedade. Todos os factos e personagens nele descritos são identificados e classificados em dezenas de notas que figuram no término de cada Canto. Em boa verdade, não é apenas uma obra poética que ficou inédita por razões políticas, mas antes um verdadeiro documento histórico, embora de cariz literário, urdido no género mais caro à tradição nacional e ao gosto popular. Sendo as estrofes escritas com objectivos políticos, ainda que em tom crítico-jocoso, este códice torna-se numa fonte de informação notável para a história regional, particularmente para a história da cidade de Lagos, acrescendo com isso a necessidade de o publicar.
Este códice manuscrito abre com a seguinte "Introdução", uma espécie de nota explicativa, que passo a transcrever: 
«Os tumultos de Lagos originados das paixões de alguns Ministros, como pela ellevação da Caza do Vereador Bento de Azevedo, tem sido objecto de rizo para huns, e de trabalho para outros; mas de lastima para todos aquelles bons, e sinceros animos que se interessão no publico socego. A ultima dezordem que occazionou, e deu logar a este pequeno Poêma, em que mais se observão as leis da Verdade do que as Regras da Arte, se lhe fez de alguma utilidade, dando a conhecer os males e dezordens, a que nos conduz a discordia, e a ambição, e preencherá o fim do seu Author, unico e singular, que se propoz em ordenálo; e se alguém duvidar da variedade dos factos que nelle se apontão, o Author não tem duvida em apprezentar provas autenticas de todos elles, em qualquer Archivo, ou livraria publica da Corte.»
Confesso que não consegui identificar o autor deste poema crítico-jocoso, muito embora presuma que se trate de um adversário político, talvez um antigo membro das anteriores vereações, cujo espírito progressista e burguês, certamente favorável ao reformismo pombalino, se opunha à mentalidade do monarquismo absolutista que com D. Maria I retornara ao poder, abjurando e derruindo a maioria das conquistas sociais alcançadas durante a administração josefina. 
Não obstante o manuscrito se apresentar anónimo - como aliás convinha ao seu carácter clandestino e aos seus objectivos subversivos - encontrei no final da "Introdução" que acima se transcreve uma assinatura de um único nome: Valle. Fiquei, porém, na dúvida se seria a identificação do autor ou do copista, já que desta «Ministrada» circularam vários exemplares manuscritos.
Seja como for, uma coisa é certa, este códice necessita de ser estudado e analisado por um historiador especializado no conhecimento da época, que prepare a sua publicação numa edição que elucide os leitores de todas as dúvidas que a sua leitura possa suscitar. As notas aduzidas no fim de cada Canto, são muito úteis e importantes para a identificação dos intervenientes na acção política, e sobretudo na contestação social descritas no poema, mas pareceram-me por vezes dúbias, algo veladas e pouco esclarecedoras para a compreensão da diegética histórico-literária. Só um especialista na matéria é que poderá dissipar todas as dúvidas, e até talvez identificar o seu autor.
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(1) Biblioteca Nacional de Lisboa, reservados, códice nº 6058.

domingo, 13 de novembro de 2016

Joaquim Ignez, um herói popular de Loulé

Uma aura de lenda e de heroísmo popular envolve a figura, hoje absolutamente ignorada, de Joaquim Ignez, um pobre e ignaro pastor, nascido e criado na aldeia de Salir, concelho de Loulé. Pouco ou nada se conhece sobre as suas origens familiares, sabendo-se apenas que manejava uma funda com insuperável pontaria e conduzia um rebanho de cabras, com tanta humanidade e carinho que as amestrara na arte de comunicarem, respondendo aos seus comandos e chamamentos.
Panorâmica da vila de Loulé, no último quartel do séc. XIX
Residia no sítio dos Palmeiros, não longe de Salir, e vivia do produto do seu rebanho. Ganhava o sustento com honestidade, sacrifício e trabalho. Tornou-se conhecido, respeitado e admirado pelos louletanos, pela seriedade com que vendia o proveito do seu rebanho, mas também o produto da caça silvestre, mercê da destreza com que manejava a funda. Acima de tudo fruía do prestígio da sua valentia e da coragem com que defendia o seu rebanho ao calcorrear as brenhas da serra algarvia.
Nos tempos do “foge-foge” andava o povo no Algarve esbaforido com a opressão dos exércitos estrangeiros, primeiro foram os franceses e depois os ingleses. Não havia sossego, e no chamado “ano do barulho”, em 1833, ocorreu o desembarque da esquadra liberal nas praias de Altura/Cacela, de que resultou a invasão do Algarve pelas tropas do Duque da Terceira. Entre 24 de Junho e 20 de Julho de 1833, esteve todo o Reino do Algarve submetido aos desígnios dos novos ocupantes, cujo efectivo militar era sobretudo constituído por mercenários franceses, belgas, suíços, ingleses, etc.
O governador do Algarve, general Mollelos, fervoroso servidor do Trono e do Altar, fiel súbdito de D. Miguel e do absolutismo, receando o confronto com o exército invasor, desconfiando da motivação dos seus soldados e da eficácia do seu armamento, decidiu retirar-se do Algarve e reagrupar forças em Beja. Foi uma decisão desastrosa para a sobrevivência da causa miguelista. Na verdade, constituiu o princípio do fim do absolutismo e a afirmação do liberalismo em Portugal.
Ponte, supostamente romana, sobre a ribeira da Tôr
Mas, nos primeiros dias da ocupação do Algarve pelas tropas do Duque da Terceira, houve que distribuir a força militar pelas principais cidades e vilas da região, a fim de impor aos seus habitantes as novas autoridades, inventariar recursos e requisitar meios para a sobrevivência dos novos senhores.
Para a vila de Loulé destacaram um batalhão de mercenários belgas, que à imagem do que já haviam feito os seus camaradas franceses em Faro e Olhão, cometeram certos abusos e exerceram arbitrariedades que os louletanos não esperavam, nem podiam tolerar. Parece que os soldados estrangeiros, na visita de inspecção que fizeram à freguesia de Salir, desrespeitaram a fé católica. Diz-se que foram à igreja local na procura de valores que não encontrarem, e por represália tiraram as imagens dos santos e depuseram-nas no átrio, cometendo gestos impúdicos e proferindo palavras que vexaram a fé católica e ofenderam a honra dos salirenses. O povo empertigou-se e os mercenários belgas responderam com prepotência e impetuosidade, causando alarme e escândalo entre o povo da serra algarvia.
A humilde Igreja da Tôr, palco das diatribes belgas
Consta que a notícia da agressão belga chegou aos ouvidos do Joaquim Ignez que preparou a vingança com a paciência e o método de um verdadeiro guerrilheiro. Conhecedor dos meandros e recônditos da serra, Joaquim Ignez esperou que o batalhão belga retirasse da sua aldeia natal em direcção a Loulé, para numa das passagens da ribeira de Salir, a mais favorável e frequentada pelos almocreves, surpreender os soldados com a destreza e perícia da sua funda, atacando à pedrada os soldados, ferindo vários e matando três. A confusão que se instalou entre os belgas foi enorme, mas depois que se recompuseram do susto empreenderam uma impiedosa caça ao homem, com batidas pelos montes e disparos atrabiliários, sem qualquer critério ou justificação. O pobre do Joaquim Ignez conseguiu escapar-se graças à colaboração do seu rebanho que encobria a sua presença e apagava os trilhos da sua peugada.
A partir de então a fama do pastor de Salir correu célere entre os montes da serra algarvia, tornando-se numa figura quase mítica, num herói popular que defendeu a honra dos seus humildes conterrâneos contra a injustiça e opressão dos ocupantes estrangeiros. A cabeça do humilde pastor foi posta a prémio. Lavraram-se autos de culpa e iniciaram-se os processos de captura, que decorreram durante anos sem efectivo resultado. O povo serviu-lhe de escudo, protegendo-o com o seu silêncio e auxílio material, frustrando a perseguição movida pelas autoridades liberais. Diz-se que o Joaquim Ignez homiziado na serra algarvia, chegou a acompanhar os homens do Remexido, preferido manejar a sua silenciosa e certeira funda em vez do cobarde e estrondoso fuzil.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

CÚMANO, Paulo

Maria Antónia Cúmano, 1861-1948
Abastado proprietário e benemérito local, nasceu a 17-05-1856, na freguesia de S. Pedro, em Faro, e residiu da rua do mesmo nome, no palacete que pertenceu ao Dr. Lázaro Doglioni, no qual esteve sediado o Arquivo Distrital quase até aos finais do séc.XX. Aqui viria a falecer, em 21-6-1948, com a provecta idade de 92 anos de idade.
Foi o último descendente do Dr. Justino Cúmano, notável médico, arqueólogo e numismata, nascido em Veneza a 20-02-1818, e falecido em Faro a 13-03-1885, que se havia consorciado em 17-05-1855 com a ilustre dama farense, Dª Maria Victória Pereira de Mattos, de quem teve quatro filhos: Paulo Cúmano, Maria Antónia Cúmano (nascida em 1861, e que foi casada com o conhecido proprietário João António Júdice Fialho), Isabel Cúmano (nascida a 6-06-1866, e que foi casada com o ilustre engº agrónomo Manuel de Bivar Gomes da Costa Weinholtz [1861-1901], que foi reitor do Liceu de Faro e deputado pelo Algarve), e Constantino Cúmano (que foi casado com a cunhada Ana Hickling de Bivar Weinholtz).
Isabel Cúmano, 1866-1918
Era um cidadão ilustre e muito querido na sociedade farense, não só pelas suas origens familiares e avultados meios de fortuna, como também pela sua afabilidade, pela sua bondade e filantropia, ajudando sempre as instituições de apoio aos mais carenciados.

Quando faleceu encontrava-se viúvo, desde há muitos anos, de D.ª Rosa Carvalho Machado, estando ainda vivos as suas filhas D. Maria Vitória e D. Maria Justina, proprietárias da Casa Paris, extinta alguns anos depois, e os seus filhos, capitão Paulo Cúmano, Lázaro Cúmano e Francisco Constantino Cúmano, todos a residirem em Lisboa. O seu filho cap. Paulo Cumano ficou conhecido por ser inspector e figura proeminente dos quadros superiores da PVDE, polícia internacional para a defesa do estado, que se ocupava quase em exclusivo da vigilância e perseguição aos adversários políticos do regime salazarista.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

ORTIGÃO, Berta Lúcio Pousão Pereira Ramalho

Figura de grande prestígio e distinção social, cujas origens entroncam nas principais famílias da alta burguesia algarvia do século XX. Era irmã do famoso poeta e causídico olhanense, João Lúcio, que faleceu cedo demais para uma carreira nas letras que se adivinhava de grande sucesso.
Era sobrinha do malogrado e genial pintor Henrique Pousão, do qual herdara grande parte da sua obra artística, que reservava na sua residência, juntamente com muitos dos pertencentes particulares do irmão, reunindo assim um dos mais valiosos espólios da cultura algarvia. Esse valioso e importante acervo artística – composto por inéditos de João Lúcio, correspondência epistolar, fotos de família, assim como esquissos, quadros e fotos de Henrique Pousão - acabou depois por se dispersar pelos herdeiros da família, sendo hoje praticamente impossível voltar a reuni-lo
Faro, panorâmica ribeirinha, anos 20 do século passado
Berta Ortigão nasceu em Olhão, em 1896, tendo completado a sua instrução básica através de perceptoras particulares que lhe ministraram o conhecimento da cultura clássica, a ponto de se fazer notar a sua opinião, e a sua crítica, junto das figuras ilustres que frequentavam o lar materno. Era, acima de tudo, uma mulher inteligente e perspicaz, de forte cultura humanística, que gostava de vincar as suas convicções monárquicas, contra os abusos e despautérios do revolucionarismo desembolado que se instalara no país após 1910.
Casou-se com o Dr. Silvestre Falcão Ramalho Ortigão, conceituado causídico na praça de Faro, grande proprietário rural e urbano, herdeiro de avultados meios de fortuna, e de prestigiados pergaminhos familiares. Em Faro fixou D.ª Berta a sua residência conjugal. Na sociedade farense foi sempre muito respeitada e admirada, não só pelas suas qualidades morais e fino trato social, como sobretudo pela sua ilustração e espírito mecenático. Não havia concerto, peça de teatro, conferência ou exposição de arte, tanto em Faro como em Olhão, que não contasse com a presença de D. Berta Ortigão. Era como que um atestado de qualidade, que a cidade fazia questão de manter.
No início da década de sessenta do século passado, então viúva e depauperada pela doença que se manifestava de forma prolongada, foi para Lisboa onde durante vários meses procurou alívio para os seus padecimentos. Faleceu a 20 de Março de 1963, com 66 anos de idade, realizando-se o seu funeral dois dias depois em Faro, ficando depositada em jazigo de família no cemitério da Esperança.

Acresce dizer que D.ª Berta não teve filhos, mas as suas relações familiares eram muito vastas. Assim, pelo casamento era cunhada de Teresa Falcão Ramalho Ortigão, Rita Ramalho Ortigão Pinto Cortês (casada com o Dr. Carlos Pinto Cortês), Sebastiana Ramalho Ortigão, capitão João Falcão Ramalho Ortigão (que casou e residiu em Vila Viçosa) e Joaquim Ramalho Ortigão. Era tia de Maria Luísa Pousão Pereira Moreno da Cunha, Maria Eugénia Ramalho Ortigão Delgado (casada com o comandante aviador Francisco Delgado), Drª Maria Rita Ortigão Cortês, Maria Eduarda Pousão Pereira de Figueiredo, Maria Luísa Pousão Sancho Moniz Pereira (poetisa que foi casada com o Cor. Nuno Moniz Pereira, casal que conheci muito bem), engº Ruy Pereira Ramalho Ortigão, João Manuel Pousão Sepúlveda de Figueiredo, Jorge Pousão Pereira de Figueiredo e Joaquim Manuel Pousão Ferreira (casado com Alzira Franco Marques Pousão Ferreira).

sábado, 13 de agosto de 2016

ÁPODOS LOCAIS



“DITADOS TÓPICOS” foi a designação que José Leite de Vasconcelos inventou para designar aquelas expressões, de tipo adesivante, que servem para caracterizar certas pessoas, ou determinadas populações, que ficaram presas a factos do passado, que por bem ou por mal, abonam o seu carácter e as suas características de vida. Sem querer discordar do nosso último sábio, prefiro a designação de “ÁPODOS LOCAIS” para referenciar certos adágios ou ditos com repercussão regional.Alguns são simples e de imediata compreensão, quase não constituindo insulto para quem os profere, nem suscitando melindre para quem os ouve e acata. Estão neste âmbito chamar “serrenhos” aos habitantes da serra algarvia, que parece de somenos agressividade insultuosa do que “montanheiro”, designação que os citadinos usam para definir os arcaicos, ignaros e desconfiados habitantes das aldeias serranas.Do mesmo modo, parece tolerável chamar “carecas” aos de Faro, ou “melos” e “melinhos” aos de Olhão. Tem tudo a ver com o Barão de Faro (família Ortigão) que era careca, e com o Barão de Olhão, que era de apelido Melo. Tudo simples, compreensível e até tolerável. Já não se pode dizer o mesmo quando se classificam os louletanos de “caceteiros”, os sambrasenses de “cachamorreiros” ou se designa depreciativamente os de Monchique como “monchiqueiros, dando a entender que a salutar e verdejante vila termal não passava de uma alfurja.Menos admissíveis e convenientes eram, porém, certas designações ou expressões que, funcionando linguisticamente como ápodos, feriam a susceptibilidade das populações locais. Incluem-se, neste caso, a designação de “linguareiros” para os habitantes de Lagoa, e de “casmurros” para os da freguesia de Budens, no concelho de Lagos. Aos do Alvor chamam-lhe “os que roubaram o Senhor”, por causa de uma lenda popular muito deturpada e pior interpretada. Maldosa e pessimamente narrada tem sido, ao longo de muitos anos, a historieta dos de Tavira (e também dos de Lagos), que por ganância, egoísmo ou temor de partilha, se diz que “comem na gaveta”. O mesmo acontece quando em Faro se fala do “agulheiro”, uma falsa lenda que por não ter pés nem cabeça caiu no olvido e no perdão dos farenses. Já a mesma tolerância e perdão não poderá esperar quem tiver a ousadia de afirmar que “quando zurra um burro é meio-dia em Porches”. Aquela tão velha quanto bela aldeia de Porches, cujos pescadores desafiavam os mares mais longínquos, nunca perdoariam tamanha insolência. Em Porches já não há burros…Os de Armação de Pera dão uma casca tremenda quando se lhes diz: “larga o prego”, os de Estoi quando se lhes fala no “garrocho”, e os de Olhão desencadeiam um arraial de trolha quando lhes falam nos “canudos do órgão”. Igualmente insultados se sentem os de Lagos quando se lhes fala na história do Maio, ou do “quanto mais longe mais luze”. É certo e sabido que o “tresluze” do Maio desencadeia no ânimo lacobrigense uma valente bofetada ou um soco nos dentes do engraçadinho que proferir tão insultuosa expressão. Pior do que tudo isso é proferir em Monte Gordo, sobretudo junto dos pescadores a que chamam “Cuícos”, a frase “moce agarra o pato”. Arreia-se o tresmalho e vai tudo pelos ares, a soco, pontapé e naifada… 
Aos de Vila Real de Santo António não se deve falar no poço velho e muito menos se deve perguntar se bebem “água do povo novo”. A resposta vem de imediato, de cima para baixo e com o punho fechado. Já vi um incauto, a instâncias de falsos amigos, pedir à mesa do café “água do povo novo”, saindo pela porta fora quase a toque de caixa. Isto sim são ápodos locais, por serem maldosos, insidiosos e estigmatizantes.Logicamente não vou contar nenhuma dessas histórias, visto serem demasiado escabrosas e inconvenientes para serem agora desenterradas. Certamente era isso que os meus leitores queriam, mas reservo-me por razões de respeito para uma ocasião mais aprazada, e mais segura…

domingo, 7 de agosto de 2016

ALBUQUERQUE, Teresa de Jesus Lopes de Pina Manique e

Senhora muito respeitada da burguesia farense, que pelo casamento se tornaria herdeira de prestigiados pergaminhos sociais no seio da elite nacional. Deve ter sido das primeiras mulheres a concluir um curso universitário, e quase de certeza a primeira portuguesa licenciada em Engenharia Agronómica.
Nasceu em Faro, na centúria de oitocentos, e foi das primeiras meninas a estudar no Liceu Nacional de Faro. Aliás, chegou a frequentar aquele estabelecimento com as suas irmãs, o que atesta a superioridade mental e intelectual da família, cujo espírito evoluído e moderno se diferenciava largamente da restante sociedade farense, cuja tradição reservava para as meninas um papel mais comedido e reservado. As “meninas do Liceu”, como então lhes chamavam, eram três irmãs, pertencentes à família Jesus Lopes, de origens sociais modestas, que se estabelecera com enorme sucesso no sector mercantil e agro-industrial.
Quando a Teresinha quando foi para Lisboa estudar optou pela investigação no Instituto de Engenharia Agronómica, onde foi protegida e tratada como a mais rara flor daquela instituição científica. A sua primazia conferiu-lhe um estatuto muito especial a ponto de ter conquistado o coração de um dos alunos mais proeminentes do instituto e da própria sociedade lisboeta. Refiro-me ao conhecido engenheiro agrónomo e silvicultor José de Pina Manique e Albuquerque, figura de proa da Estação Agronómica Nacional, de quem teve uma única filha, Helena Guiomar de Pina Manique Albuquerque.
A engª Teresa tinha mais duas irmãs, igualmente casadas com figuras de referência na sociedade científica nacional: a Dr.ª Branca Lopes Martins, então já viúva do famoso Prof. Doutor Augusto da Silva Martins; e a Dr.ª Maria João Lopes do Paço, esposa do prestigiado arqueólogo e etnólogo Afonso do Paço, que curiosamente foi sempre um militar de carreira, alcandorando-se ao posto de Tenente-Coronel.
Viveu a maior parte da sua vida em Lisboa, mas quando vinha ao Algarve nunca se esquecia de visitar a sua terra-natal, onde mantinha laços familiares, relações de amizade e beneficência, contribuindo pecuniariamente para as principais instituições de caridade, protecção à infância e auxílio mútuo. Costumava passar férias no Algarve, nomeadamente na estância termal de Monchique e, mais tarde, na Praia da Rocha, sendo essas estadias alvo de notícia na imprensa regional algarvia.
A engª Teresa de Jesus Lopes residiu durante décadas na Avenida da República, em Lisboa, onde viria a falecer a 18-8-1965.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

RIO, Maria do Céu

Exemplo dos Lavores femininos
Haverá ainda hoje certamente muitas senhoras farenses que se recordam de Dª Maria do Céu Rio, uma prestigiada professora de Lavores Femininos, que ensinou a muitas jovens meninas os primeiros rudimentos das artes manuais, e da educação feminina, especialmente das chamadas artes menores. Mas os principais aspectos desse tipo de ensino prendiam-se com a chamada educação feminina, relacionadas com actividades domésticas, como bordar, costurar, passajar, remendar e até reciclar roupa usada, mas também pintar, modelar o barro, fazer tapeçarias, e até cozinhar. Noções de higiene, de puerícia e de civilidade, eram igualmente veiculadas às jovens alunas. 
Esta conceituada professora de Lavores e de Educação Feminina não nasceu no Algarve, mas isso não obstou a que fosse considerada, nos anos quarenta e cinquenta do século XX, como uma das mais apreciadas e respeitadas professoras do Ensino Técnico Profissional no Algarve. 
Maria do Céu Rio, nasceu em Lisboa no ano de 1890, e fez toda a sua formação escolar e profissional na capital, onde viria a conhecer o seu marido, José Fernandes Guerreiro, algarvio que julgo nascido em Loulé, também professor-mestre na área do Ensino Técnico-Profissional.
Por razões de facilidade de colocação profissional, e também por conveniência conjugal, decidiram ambos concorrer à Escola Industrial e Comercial de Faro, em cujo quadro docente foram integrados, na qualidade de mestres nas suas áreas de especialização, ela nos Lavores e ele no Desenho Industrial e Oficinas. Ambos adquiriram rapidamente uma certa aura de competência e de prestígio profissional, que lhes foi conferida pelos colegas, mas principalmente pelos alunos, que reconheciam na Profª Maria do Céu uma forte veia artística e uma apetência natural para o desenho, para a pintura, e muito especialmente para os bordados e tapeçarias. Por outro lado, era uma senhora muito simpática, de boa educação, porte fino e lanheza de trato. Mostrava-se sempre condoída com a infelicidade alheia, com os pobres e as agruras dos necessitados, participando com o seu esforço e os seus lavores artísticos na angariação de meios para acudir às crianças desvalidas e às famílias mais desfavorecidas. Era em tudo um coração terno, de espírito solidário e benfazejo.
Um lenço bordado na aula de Lavores
Ao longo da sua vida dedicou-se ao estudo das artes tradicionais portugueses, particularmente na área da tapeçaria, aprendendo as técnicas mais exigentes, não só de Portalegre como também de Arraiolos, inclusivamente os bordados de Castelo Branco, e outras técnicas mais populares mas menos exigentes.
Mercê da sua disponibilidade e espírito cooperante, mas também pelo seu talento artístico e grande aptidão para o restauro de obras de arte, foi-lhe pedido que efectuasse o restauro das tapeçarias de Tavira existentes no Museu da Figueira da Foz, o que fez com que se dedicasse ao estudo dos tapetes tradicionais franceses executados na conformidade das técnicas de Aubusson.
Trabalhou na Escola Industrial e Comercial de Faro durante mais de trinta anos, até à aposentação por limite de idade, granjeando provas da maior admiração e simpatia por parte dos seus colegas, alunas e funcionários, que não regateavam elogios aos seus gestos de bondade e de generosidade, mas também às provas da sua elevada competência profissional.
Faleceu a 25 de Setembro de 1974, quando tinha 74 anos de idade, e toda a sociedade farense sentiu com extremo pezar o seu desaparecimento. A Escola Industrial e Comercial de Faro deu a público um voto de luto pelo falecimento da Profª Maria do Céu Rio, cujo inconsolável marido ainda continuava ligado àquela instituição de ensino.

sábado, 9 de julho de 2016

ASCENSÃO, Coronel Rodrigo António d’Aboim

Casal Aboim Ascensão, 
 como  filho Rodrigo
Militar e político, nasceu em Faro, a 23-8-1859, e faleceu com 70 anos de idade em Lisboa, a 22-1-1930. Era filho de Manuel Joaquim Ascensão e de D.ª Maria da Piedade de Mascarenhas Aboim, oriunda de uma das mais ricas e prestigiadas famílias do Algarve.
Possuía um primoroso carácter e uma inexcedível bondade, sempre muito preocupado com os mais desfavorecidos e, sobretudo, com o combate à pobreza, nunca se alheando do progresso da sua terra natal e do Algarve em geral, razão pela qual era muito estimado e admirado pelos seus conterrâneos.
Cor. Rodrigo Ascensão
O coronel Aboim Ascensão foi um militar prestigiadíssimo, que realizou com alta distinção o curso do Colégio Militar, seguindo depois para a Escola do Exército, onde cursou com alto aproveitamento a arma de cavalaria, na qual se manteve com enorme competência e muita paixão até ao fim da vida. No exercício das suas competências militares serviu durante muitos anos na Guarda Fiscal, nas patentes de tenente e capitão sendo depois promovido a 2.º comandante da Circunscrição do Sul. Serviu como capitão ajudante o general visconde de S. Januário, figura de proa do Exército durante a monarquia. Aliás foi durante o anterior regime que o cor. Aboim Ascensão adquiriu grande influência política, não só em Faro, como também em Lisboa. Isso valeu-lhe a nomeação para Governador Civil do Funchal, onde desempenhou as suas funções com acerto e agrado dos interesses madeirenses.
busto em Lisboa
Na sua dedicação filantrópica e benemerente registe-se a sua acção como fundador, em 1901, da Associação Protectora da Primeira Infância de Lisboa, da qual era presidente honorário.
O cor. Aboim Ascensão possuía várias condecorações e mercês honoríficas, de entre as quais distinguimos a de comportamento exemplar e as comendas de Santiago da Espada, de S. Bento, de Aviz e de Mérito Militar Espanhol.
Deixou em testamento vários donativos com os quais contemplou diversos estabelecimentos de assistência, nomeadamente a Associação Protectora da Primeira Infância de Lisboa, a Associação de Beneficência e Instrução do Campo Grande e o Asilo de D. Pedro. Por outro lado, deixou um importante legado para a criação em Faro de uma casa de caridade, para recolha de velhos e crianças desamparadas que se denominaria por «Refúgio Aboim Ascensão». Com efeito, em 1933, o seu sobrinho e genro, Manuel Aboim Ascensão de Sande Lemos (1), no seguimento da referrida vontade testamentária, instituiu o «Refugio Aboim Ascensão», que primeiramente funcionou como lactário (2) e centro de apoio a mães solteiras, evoluindo depois para a prestação de serviços médicos às crianças recém-nascidas e bebés prematuros. O espírito que desde a sua fundação sempre presidiu a esta instituição foi o do nobre sentimento de apoio à primeira infância, espírito que ainda subsiste, cada vez com maior acuidade e sucesso mercê da dedicação e proficiência do Dr. Luís Villas Boas que em 1985 a resgatou do abatimento e ruína em que se encotrava.
Monumento em Faro ao cor. A.Ascensão 
Na verdade tive a infeliz experiência de constatar, nos anos setenta e oitenta, o estado de degradação e de descrédito em que se deixara submergir aquela benemérita instituição. Era visível a falta de asseio e pobreza dos seus internados, que pela manhã se espalhavam pelas ruas da baixa farense, de cabeça rapada e roupa andrajosa, pedindo esmola para comer uma sopa. Isto era identificativo da forma pouco correcta como as crianças estavam a ser tratadas, não sendo despiciendo suspeitar que essas crianças pudessem ter sofrido abusos de toda a espécie. Felizmente, em 1 de Agosto de 1985, o Dr. Luís Villa-Boas, também ele um militar de prestígio e de elevada integridade moral, tomou conta da instituição, estabelecendo depois diversos acordos de cooperação com os Ministérios da Segurança Social, da Justiça, da Saúde e da Educação, e muito especialmente com a Câmara Municipal de Faro, que desde a sua fundação tem prestado um inestimável apoio ao Refúgio. A coordenação de todos esses esforços deu origem ao grande Centro de Acolhimento Temporário de Emergência, vulgo «Emergência Infantil», o primeiro a ser criado no país, para crianças recém-nascidas, dos 0 aos 6 anos de idade, sendo certo que algumas delas permanecem para além dessa idade conforme a especificidade dos casos.
O coronel Rodrigo Ascensão foi casado com D. Olímpia Covachi d'Arrábida Lamas Aboim Ascensão, de quem tinha uma única filha, D. Maria da Piedade Lamas de Aboim Ascensão de Sande e Lemos, casada com o Eng.º Manuel de Aboim Ascensão de Sande Lemos, instituidor, como disse, do «Refúgio». Era irmão de D. Joaquina d’Ascensão Davim, casado com o Dr. Rodrigues Davim, e de D. Maria da Piedade Aboim d’Ascensão, casada com o cor. Sande Lemos. Desta radícula social descendem as mais notáveis e lutocráticas famílias da cidade de Faro.

(1) Manuel Aboim de Ascensão Sande Lemos, nasceu em Faro, a 4-7-1899, e faleceu em Lisboa, a 16-5-2001. Seguiu a carreira militar, na senda dos seus ascendentes, tendo sido um dos oficiais do C.E.P (Corpo Expedicionário Português) condecorados na I Guerra Mundial, por actos de coragem e valentia. Entre outros cargos de prestígio militar, social, cultural e político, merecem particular referência os seguintes: Presidente da Cruz Vermelha Portuguesa. Presidente do Conselho Supremo da Sociedade Histórica de Independência de Portugal. Presidente do Conselho Supremo da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar. Secretário-Director da Associação Protectora da Primeira Infância. Fundador da Ordem dos Engenheiros. Fundador da Caixa de Previdência dos Engenheiros. Fundador da Associação de Beneficência Refúgio Aboim Ascenção. Fundador da Obra Social da Guarda Fiscal. Membro n.º 31 Emérito da Academia de Engenharia. Posterior a 22 de Mar de 1996. Membro n. 31 Emérito da Academia de Engenharia.

(2) O lactário (adaptação do francês crêche) destinava-se a combater a mortalidade infantil, divulgando às mães conhecimentos de puerícia, higiene e alimentação. Por isso, os lactários ficavam perto de maternidades, hospitais, infantários, e outras instituições de saúde materno-infantil, que garantiam alimentação adequada não só aos bébés como também às mães que amamentavam. No fundo os lactários funcionavam como cantinas para crianças pobres, mas também como escolas para jovens mães.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Corte-Real, Maria da Aprezentação Thereza Jacintha da Franca

Em Dezembro de 1814, o Tribunal do Dezembargo do Paço recebeu um requerimento firmado por D.ª Maria da Aprezentação Thereza Jacintha da Franca Corte Real, ao tempo viúva de Gil Vaz Lobo de Lemos Faria e Castro, fidalgo da principal nobreza de Faro, por causa de um processo relativo aos limites e confrontações do Prazo chamado da Torre, que lhe havia movido o capitão Francisco Xavier de Moraes, da freguesia do Alvor, no concelho de Vila Nova de Portimão, o qual reivindicava para si o direito e posse de uma parte do antigo, e já referido, Prazo da Torre, composto por terras de pão, de lavoura e de sal.
Palácio Pantoja, na Rua de Stº António, em Faro,
actual sede do Clube Farense, vendo-se a pedra
 de 
armas da família a encimar 
a porta principal. 
Julgo que estamos em presença da vasta propriedade que, já neste século, seria convertida em espaço de ocupação imobiliária de exploração turística, sob a designação de Torralta.
No requerimento apresentado por D.ª Maria da Aprezentação Corte Real contrapõe-se a nulidade das pretensões do capitão Xavier de Moraes, mercê do facto daquela propriedade, Prazo da Torre, se encontrar na posse da família Franca Corte Real "desde tempo que excede a memoria dos homens".
Julgo que esta senhora, D.ª Maria da Aprezentação, era natural de Faro, mas a radícula da sua família provêm de Tavira. Quanto ao seu marido, o fidalgo Gil Vaz Lobo de Lemos Faria e Castro, era filho do rico e poderoso Gil Vaz Lobo Freire Pantoja - notável proprietário rural, com interesses nas pescas, na marinha mercante e no trato mercantil, residente no palácio que ostenta a sua pedra de armas na rua de Stº António, onde hoje se encontra sediado o Clube Farense - cuja filha casou em 1733 com o seu primo, Damião António de Lemos Faria e Castro, ilustre historiador algarvio e uma das figuras mais distintas da cultura lusíada e do setecentismo português. 
O requerimento de D.ª Maria da Aprezentação, bem como a documentação a que me referi, encontra-se no Arquivo Nacional da Torre do Tombo,  núcleo do Dezembargo do Paço, secção do Alentejo e Algarve, Maço 517, doc. nº 13 e segs.

terça-feira, 28 de junho de 2016

AROUCA, Domingos Correia

Militar e farmacêutico, estabelecido em Faro onde residiu até ao seu falecimento ocorrido a 2-7-1953, quando contava 70 anos de idade.
Na vida militar chegou ao posto de capitão, no qual se reformou. Da vida castrense resultou a sua dedicação à farmacologia. Por outro lado, tinha especial propensão para o estudo da botânica, sendo até apontado como grande conhecedor das propriedades das plantas e da sua aplicação no combate das doenças.
Era irmão de D. Maria da Conceição Arouca, cunhado do Dr. Alexandre Pereira Assis, que foi médico municipal em Faro, e tio de D. Maria Isabel Arouca Assis Simões; de D. Maria da Conceição Arouca Assis Cardoso Vilhena, casada com o Dr. Arnaldo Vilhena, que foi Delegado de Saúde em Faro; e de D. Maria Alexandra Arouca Assis Marques dos Santos, casada com Francisco Marques dos Santos, residente em Lisboa.

domingo, 26 de junho de 2016

ANDRADE, José Damasceno de

Militar e funcionário público, era natural de Castro Marim, mas foi viver para a cidade de Tavira quando ingressou na vida militar. Fez a instrução castrense até ao posto de sargento, tendo mais tarde optado pela vida civil mercê de algumas desilusões, acrescida de alguma depressão pós-traumática dos tempos que viveu em África, defendendo os interesses nacionais em terras de Moçambique. Em Tavira foi um cidadão muito estimado, quase um herói popular, quando a morte lhe ceifou a vida através de um fulminante derrame cerebral. Faleceu a 8-12-1937, quando desempenhava as funções de escrivão da capitania do Corpo de Olhão, onde aliás era muito considerado, não só pela bondade de carácter e competência profissional, como ainda pelo seu prestígio social, já que era tido como um herói das nossas campanhas de 1895 em África, que culminaram com a submissão das tribos rebeldes e a prisão do célebre Gungunhana.
Painel azulejado de um dos bancos do jardim
1º de Dezembro em Portimão
José Damasceno de Andrade mercê das suas capacidades ascendeu ao posto de 2.º sargento do Regimento de Infantaria 4, tendo servido com grandes sacrifícios na expedição que em 1895, foi para a África Oriental combater as tribos que se havia rebelado contra a autoridade portuguesa, sendo por isso condecorado com a medalha de prata da classe de valor militar.

sábado, 25 de junho de 2016

ALEXANDRE, Manuel

Capitão do exército, natural de Faro que faleceu na vila de Olhão, para onde acabara de mudar a sua residência, a 31-1-1935, com 51 anos de idade.
As suas ideias nacionalistas, muito próximas dos novos movimentos ideológicos que despontavam na Itália e na Alemanha, tornaram-no conhecido das chefias militares que estiveram directamente envolvidas na revolução do “28 de Maio”, que em 1926 derrubou a democracia e instituiu a ditadura em Portugal. Não admira pois que tivesse sido aproveitado para desempenhar diversas funções políticas e administrativas ligadas à ditadura. Inclusivamente foi designado para presidir à comissão concelhia da União Nacional em Faro.
Assim, logo após o movimento do“28 de Maio”, foi nomeado governador Civil substituto do Algarve. E nos anos seguintes, ou seja entre 1927 e 1935, desempenhou vários cargos políticos, nomeadamente o de Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Faro, administrador do concelho de Olhão e depois de Portimão, tendo por fim, em 1933, aceitado o lugar de Delegado do Instituto Nacional do Trabalho no Algarve.
Faleceu repentinamente com um AVC, derrame cerebral, que o abateu em poucos minutos quando se encontrava a trabalhar. Foi casado com D.ª Maria João Martins Alexandre, de quem teve um único filho, Álvaro Manuel Alexandre, ao tempo aluno da escola militar. Era irmão de Aníbal Alexandre, farmacêutico que emigrara poucos anos antes para Pau da Bandeira, no Lobito, em Angola.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

ALBERTO, António Joaquim

Sacerdote, nasceu na freguesia de Odeleite, concelho de Castro Marim, e faleceu em Lisboa, a 16-7-1949, com 65 anos de idade. Era filho de D. Ana Seco Alberto e de Manuel António Alberto.
Estudou no Seminário de S. José, em Faro, onde se ordenou presbítero, sendo desde logo considerado como um jovem talentoso e uma das mais seguras promessas da diocese algarvia. Pelo facto de ser muito inteligente e dedicado à vida religiosa é que o bispo D. António Mendes Belo o incluiu naquela plêiade de sacerdotes algarvios, que o acompanharam até à solene cerimónia da sua consagração como Cardeal Patriarca de Lisboa. Ficaram todos na capital, auxiliando o antigo prelado do Algarve no difícil desempenho do seu múnus religioso. Aliás, quando ainda seminarista já o António Alberto se tornara no fâmulo de D. Mendes Belo, que nele depositava a maior confiança.
Cerimónia da investidura de D. António Mendes Belo, 
realizada a 5-3-1908, O p.e António Alberto é um dos 
acólitos junto às varas do pálio. (Occidente, de 10-3-1908)
No Patriarcado de Lisboa permaneceria como secretário particular do eminente purpurado durante 26 anos, servindo com o maior desvelo e competência, a ponto de o acompanhar a Roma na altura do Conclave de 1922.
Quando ingressou no Cabido da Sé Patriarcal dedicou-se aos serviços de assistência aos pobres, sendo pelas suas qualidades de gestão, e inquestionável seriedade, escolhido para tesoureiro geral da Obra das Vocações. Sempre muito activo e dedicado prestaria ainda relevantes serviços na Arquiconfraria do Santíssimo Sacramento das freguesias de S. Julião e de N.ª S.ª de Fátima, de Lisboa, da qual era, aliás, irmão benemérito.
Partiu da sua iniciativa a aquisição do Palácio de Santa Ana à Misericórdia de Lisboa, para nele ficar instalado o Patriarcado.
Possuía avultados bens de fortuna que à sua morte foram legados à Igreja, sendo por decisão testamentária doados ao seminário de Faro a importante quantia de mil libras.
Ficou sepultado no cemitério do Alto de S. João em Lisboa.
    O Padre António Alberto foi, e ainda deve ser considerado, uma das grandes figuras da patriarcal ulissiponense, mas também da diocese algarvia, infelizmente hoje ignorado e injustamente esquecido.

ASCENSÃO, António da Costa

Proprietário, comerciante e industrial, natural de Loulé, onde faleceu em Janeiro de 1947, com 70 anos de idade.
António da Costa Ascensão tinha espírito de iniciativa,  e, acima de tudo, possuía um carácter franco e amigável, honesto e tolerante, dotado de grande inteligência e inimitável capacidade de trabalho. Figura bastante conhecida em quase todo o Algarve, por manter laços de relacionamento e amizade com todos os seus clientes e fornecedores, além de que se preocupava muito com os mais carenciados, o que lhe proporcionava um capital de admiração social sem paralelo nas suas áreas de actividade profissional e de intervenção pública.
Panorâmica da vila de Loulé nos princípios do séc. XX
Foi director da antiga Companhia Industrial do Algarve, agente consular da França e sócio da firma Mealha e Ascensão Ld.ª, sem falar já nas várias empresas a que esteve associado tanto em Faro, como em Loulé, onde aliás possuía confortável residência e passava as suas férias. 
Para além do seu sucesso como empresário e industrial merece particular referência as numerosas acções de benemerência a que esteve ligado, razão pela qual a Câmara Municipal de Loulé, em sinal de gratidão, lhe atribuiu ainda em vida o nome a uma das artérias da vila.
Era irmão de D. Sebastiana da Ascensão Pablos, de José da Costa Ascensão e do Dr. Mariano da Costa Ascensão, que foram ambos, mas em diferentes datas, presidentes da edilidade louletana; sendo também tio do Dr. Leão Ramos Ascensão, jornalista em Lisboa, do Dr. Francisco de Ascensão Afonso, médico em Faro, do Dr. Raimundo Ascensão, advogado em Loulé, e de José João de Ascensão Pablos abastado proprietário e residente na mesma vila.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

FRANCO, Vicente Ferrer Maria

Tenente-coronel do exército, Vicente Maria Ferrer Franco, nasceu na cidade de Tavira a 11-8-1879, e descendia da conceituada família dos Francos, cujas origens julgo dependerem de uma corruptela do apelido Franca. Lembro que o tronco genealógico dos Francos é uma dos mais conceituados de Tavira e da zona sotaventina do Algarve. Desse tronco comum ramificam-se outras notáveis famílias algarvias, geralmente de origem tavirense, nomeadamente os Soares Franco, os Chagas Franco, os Pires Franco e os Franco Centeno.
Na carreira das armas, Vicente Franco foi sempre considerado como um oficial competente, embora algo irascível e muito autoritário, pouco simpático para os seus subalternos. Havia algumas queixas, por parte das praças e até de jovens oficiais, sobre as atitudes de poder e autoritarismo do cor. Vicente Franco. Por isso o afastaram para o desempenho de funções de administração e chefia das repartições militares, afastando-o da parada e da vida castrense.
Em todo o caso, foi sempre classificado como um valor seguro, exigente no exercício e cumprimento da disciplina e da ordem. Era um homem honesto e um oficial competente, que foi superando as exigências da carreira militar até ascender ao posto de coronel do exército. O seu carácter disciplinador e pouco moldável, fizeram com que fosse afastado do convívio das armas, sendo por isso colocado, em 1931, como Director da Manutenção Militar, em Lisboa, onde permaneceu até ao fim da vida.
Quando se encontrava em manobras militares no Vimeiro, ocorreu um triste incidente – foi vítima de uma agressão a tiro, por parte de um soldado, no decorrer das manobras de instrução militar. Após rigoroso inquérito apurou-se que as causas do ferimento mortal foram meramente acidentais. Embora socorrido e transferido para o hospital militar de Évora, aí viria a falecer com 58 anos de idade, em Outubro de 1937.
O coronel Vicente Maria Ferrer Franco, era casado com D. Maria da Conceição Caldeira Baptista, de quem teve três filhos: João Baptista Franco, casado com Maria Leonor, julgo que natural dos Açores; Fernando Baptista Franco e Jorge Baptista Franco.

Importa acrescentar que o cor. Vicente Franco era irmão do então Bispo do Algarve, D. Marcelino Franco, que na altura sentiu profundamente a sua morte, a tal ponto que se deslocou particularmente a Lisboa para assistir ao funeral daquele inditoso oficial superior do exército.

FREITAS, Luís de Mendonça

Comerciante, empresário da indústria pesqueira e proprietário rural. Era natural da freguesia de Santo Estevão, no concelho de Tavira, vindo a falecer na cidade de Faro em18-1-1953.Estabeleceu-se na cidade de Faro com um negócio de comércio e exportação de conservas, o qual manteve em crescente sucesso durante muitos anos, o que lhe permitiu mesmo vir a adquirir um cerco de pesca a vapor para incremento do seu negócio. Muitos dos lucros investiu-os na aquisição de propriedades no Alentejo.
Era um cidadão muito considerado e estimado tanto na cidade de Faro como na vila de Olhão, onde também mantinha interesses no sector da pesca.Era pai de D. Maria Isabel Cordeiro de Mendonça Freitas, do Dr. Manuel Cordeiro de Mendonça Freitas, António Cordeiro de Mendonça Freitas e Luís Cordeiro de Mendonça Freitas.

terça-feira, 14 de junho de 2016

MENDES, António Pires

Capitão do exército, natural de Loulé, que faleceu em meados de Maio de 1954, com 66 anos se idade, em Setúbal, onde desde há muitos anos residia.
Postal da época, revelando as condições de sobrevivência das tropas
portuguesas no front, pouco antes da batalha de La Lys.
Foi um militar prestigiado pela sua brilhante folha de serviços prestados à pátria, nomeadamente nos campos da Flandres durante a I Guerra Mundial. Pelos seus actos de bravura foi diversas vezes condecorado, ostentando as veneras militares com redobrado orgulho nos actos públicos em que se comemorava a I Grande Guerra e os mártires da pátria, especialmente no dia 9 de Abril, quando se homenageavam aos heróis da batalha de La Lys.
Era irmão do então já falecido capitão José Mendes Silvestre. Foi casado com D. Cândida Gomes Mendes.
O seu funeral realizado em Setúbal teve as merecidas honras militares.

PERRIER, Luís Augusto Leote d’Ayet du

Médico, natural de Albufeira. Era filho de Inês Leote de Ayet du Perier e de Jacintho Paes d’Ayet du Perrier, que foi secretário da Câmara Municipal de Albufeira durante décadas. As suas origens francesas remontam a 1833 quando um seu antepassado veio alistar-se nas tropas que defenderam a causa liberal. Pertenceu mesmo ao Batalhão Francês que em 24-6-1833 desembarcou na praia da Altura para sustentar no Algarve a causa pedrista. Cursou o Liceu de Faro e depois frequentou Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra, onde foi aluno brilhante. No 1.º ano médico foi o aluno mais classificado de Coimbra. Teve prémio no 1º, 2º e 4º, sendo, neste último, eleito sócio efectivo do Instituto de Coimbra. Formou-se em Medicina no ano lectivo de 1898-1899 e embora convidado para Lente da Universidade preferiu seguir a clínica estabelecendo-se em Cascais, onde fez várias palestras de propaganda contra a tuberculose. Exerceu também, nos últimos meses de vida, na Figueira da Foz, vinda a falecer na quinta da Mallavada, nos arredores de Coimbra, a 18-4-1908, com 38 anos de idade.
Na verdade, quando ainda era estudante universitário, foi-lhe diagnosticada a doença que o haveria de vitimar, a tuberculose, à qual dedicou o melhor do seu trabalho e inteligência.
Era casado com D.ª Albertina Martinho da Fonseca, cujas origens desconheço, e da qual ignoro se teve descendência.
Aliava à sua inteligência e probidade de carácter uma inexcedível lhaneza de trato, o que o tornava muito querido dos seus doentes. A fatal doença que trazia consigo foi a razão porque escolheu Cascais para se fixar e exercer a clínica. E o mesmo se passou quando por fim procurou alívio na praia da Figueira da Foz que conhecera nos seus tempos de estudante.

O «Diário Illustrado», vespertino muito conceituado que se publicava em Lisboa, consagrou-lhe em 1902 um artigo muito elogioso, ilustrado com um belo retrato.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Morreu o último sábio do nosso tempo, UMBERTO ECO


Vítima de cancro, de que padecia há vários anos, faleceu na noite de sexta-feira, dia 19-02-2016, no conforto da sua casa de Milão e junto da família, aquele que sempre considerei como o último sábio da humanidade. A imprensa vai certamente referir-se a ele como o escritor italiano, autor do best-seller «O Nome da Rosa», adaptado ao cinema pelo realizador Jean-Jacques Annaud, com Sean Connery com protagonista. Nada mais redutor. Umberto Eco foi escritor apenas por diversão e desafio, porque na essência da sua alma estava a insatisfação e a necessidade de criar novos caminhos nunca antes percorridos. Acima de tudo foi um filósofo que percorreu um longo trajecto intelectual, abarcando todos os conhecimentos primordiais do humanismo, desde a matemática e a geometria até à astronomia, passando pela arte e a linguística, até culminanar na semiótica. De tudo procurava saber este insaciável cidadão do mundo culto, figura cimeira da humanidade ilustrada.
Foi através da publicação, em 1980, do seu primeiro romance, «O Nome da Rosa», que o seu nome extravasou as fronteiras naturais da Europa. Rapidamente a obra alcançou um enorme sucesso internacional, traduzido nas principais línguas mundiais, vendendo milhões de exemplares. 
Embora a sua lista de obras seja vastíssima, principalmente no ensaísmo de foro académico, sobre semiótica, linguística, estética e filosofia, foi sobretudo na literatura e no género do romance que alcançou prestígio e sucesso. Destaco aqui O Pêndulo de Foucault editado em 1988, A Ilha do Dia Anterior (1994), Baudolino (2000), A Misteriosa Chama da Rainha Loana (2004) e O Cemitério de Praga (2011), este último considero primoroso pela ousadia como classifica tão despudoramente os alemães e os judeus, não os poupando aos mais insultuoso adjectivos.
No ano passado saiu na Gradiva o seu último romance, «Número Zero», que é uma severa crítica ao mundo do jornalismo. Eco não poupa o mundo da imprensa, a submissão do jornalista ao índice de vendas, a especulação e a mentira, a implacável destruição do bom nome dos cidadãos, a corrosão da moral e da honra, em suma a perversão da ética e da integralidade profissional para satisfação de velados interesses, quer da política quer da finança. 
Presentemente, e apesar de aposentado do mundo académico, Umberto Eco desempenhava as honrosas funções de presidente da Escola Superior de Estudos Humanísticos, na Universidade de Bolonha.
Morreu hoje o último sábio do nosso tempo. O dia começou triste e deprimente. Vou recomeçar a ler «O Cemitério de Praga», e rezar uma oração pela alma de um dos principais mentores da minha vida académica e intelectual.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Movimento demográfico do distrito de Faro em 1906


Os historiadores que gostam de trabalhar as fontes demográficas sabem que os registos paroquiais existentes nas igrejas (os mais antigos depositados nos arquivos históricos do município, do distrito ou da Torre do Tombo), são um incontornável manancial de informação. Não querendo saturar a paciência dos meus leitores, vou deixar aqui um breve apontamento sobre os casamentos, batizados (nascimentos) e óbitos, registados no distrito de Faro desde 1 de janeiro até 30 de junho de 1906.
Casamentos foram no total 860, com a curiosidade dos homens serem 782 solteiros e 78 viúvos, e das mulheres serem 824 solteiras e 36 viúvas. O número de homens que fazem segundas núpcias é o dobro das mulheres. Não há nenhum caso de nubentes em terceiras núpcias. É curioso que 68 dos casamentos foram celebrados entre parentes do 1º e 2º grau, ou seja, 4 foram de tios com sobrinhas e 64 foram de primos com primas, a maioria dos quais oriundos da classe alta ou média alta. Entre os 860 esposos constata-se que só 212 assinaram os termos dos casamentos, e entre as esposas só assinaram 221. Os casamentos revelam que o índice de alfabetização social era muito baixo, sobretudo entre os homens, e nas classes laboriosas. No total percebe-se que 1287 são analfabetos (648 homens e 639 mulheres) sendo que só 433 dos nubentes sabem ler e escrever. Outra curiosidade é que 855 dos esposos são portugueses (a maioria oriundos do Algarve) e 5 são espanhóis, do distrito de Huelva; entre as 860 esposas só uma era espanhola.
Nascimentos foram no total 4209, dos quais 2133 eram masculinos e 2076 femininos. Portanto nasciam mais homens do que mulheres, uma tendência que se mantinha de anos anteriores, e que parecia querer equilibrar o índice demográfico dos géneros, que era largamente favorável às mulheres.
Óbitos foram no total 2298, dos quais 1246 eram homens e 1052 eram mulheres. Por conseguinte, registou-se um crescimento demográfico positivo, pois a diferença entre os nascimentos e os óbitos foi favorável em 1911 indivíduos, dos quais 887 eram meninos e 1024 eram meninas.

Só por curiosidade se acrescenta que o índice da mortalidade infantil era já muito baixo, com uma taxa de sobrevivência acima dos 80% após o primeiro ano de vida. Entre a classe alta e média alta não constam nados-mortos nem falecimentos em trabalho de parto.