sábado, 26 de setembro de 2009

Museu Marítimo de Faro


Criado por decreto de 4-1-1889, referendado pelo Ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria, Emídio Júlio de Navarro, o Museu Industrial Marítimo de Faro, como então se designava, abriu as suas portas ao público em 24 de Novembro de 1889.
Esteve primeiramente instalado numas pequenas salas anexas ao antigo edifício da Escola Industrial e Comercial, próximo da Câmara de Faro. Mas como urgia expandir as instalações da Escola foi o espólio museológico transferido para uma velha casa na rua da Carreira, onde não servia os fins para que fora criado. Assim, acabaria por ser remetido para as magníficas salas do Palácio Pantojas, na rua de St.º António, onde hoje se acha o Clube Farense. Mas como aquele Clube precisasse de restaurar e remodelar as suas instalações foram novamente em bolandas as colecções do Museu Marítimo para as exíguas dependências da Escola de Alunos Marinheiros. Neste périplo muitas coisas desapareceram e outras se degradaram de forma quase irremediável, a ponto de haverem perdido muito do seu valor e de reduzirem toda a sua importância e interesse cultural.
Foi nestas condições, de abandono e esquecimento, que o foi desencantar o almirante António de Macedo Ramalho Ortigão, que dedicou o melhor do seu esforço à recuperação das peças mais degradadas, restaurando umas, substituindo outras e acrescentando-lhe imensos artefactos da nossa secular actividade marítima. Felizmente, nesse insano trabalho de recuperação do antigo espólio do Museu Marítimo de Faro, pode contar com a boa vontade de alguns camaradas de armas e de outros cidadãos de boa vontade, nomeadamente o pintor Carlos Augusto Lyster Franco que o ajudou a restaurar muitas peças e principalmente lhe ofereceu vários quadros sobre a fauna marítima, que hoje decoram as paredes das actuais e aprazíveis instalações do Museu.
Em sinal de reconhecimento pelo seu esforço e pela inimitável dedicação prestada ao restauro e melhoramento do antigo espólio, foi com inteira justiça atribuído o seu nome ao renovado Museu Marítimo de Faro.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Gilberto Freyre no Algarve


O ilustre escritor, antropólogo e sociólogo brasileiro, Prof. Gilberto Freire, autor da famoso obra Casa Grande & Senzala, figura de prestígio universal que trabalhou para a UNESCO como investigador da miscigenação étnica em África e na América, visitou o nosso país em Agosto de 1951 a convite oficial do governo português.
Nesse âmbito deslocou-se ao Algarve na última semana de Agosto, aqui tendo permanecido durante quatro dias a recolher informações para uma obra que se propunha escrever sobre o nosso país e seu império. Vinha acompanhado de sua esposa e dois filhos assim como por seu pai, o ilustre Dr. Manuel Freyre, antigo Juiz Federal na Baía. Acompanhava-os desde Lisboa o Dr. Manuel Rino, funcionário superior do SNI.
Como hóspede de honra do governo português esteve instalado na Pousada de S. Brás, de onde irradiou para os diferentes locais da região. Para o elucidar e responder às questões que lhe aprouvesse colocar, foi o Dr. Mário Lyster Franco requisitado oficialmente para o acompanhar durante esses quatro dias. Desse contacto nasceu uma admiração mútua e uma sólida amizade entre ambos, comprovada na oferta de livros e no envio de amistosas missivas.
Pouco depois da sua vinda ao Algarve partiu o Prof. Gilberto Freyre para as nossas antigas colónias africanas, a fim de estudar os usos e costumes dos povos autóctones, assim como as heranças culturais carreadas pelos antigos escravos para o Brasil.
As impressões dessa visita ao Algarve foram publicadas no «Correio do Sul» n.º 1763 de 6-9-1951, numa espécie de entrevista concedida pelo célebre antropólogo àquele semanário farense.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Professores do Liceu de Faro em 1932



Numa notícia publicada na imprensa local, ficamos a saber que no final do ano lectivo de 1932, realizou-se um almoço de confraternização dos professores do Liceu de Faro, servido na cantina daquele estabelecimento de ensino. Do elenco docente constavam as seguintes personalidades:
Dulce de Freitas; Ofelia Azinheira; Donatila Baptista; José Monteiro Simões; António de Sousa Agostinho Júnior; Armando Cassiano; Jorge Silvio Pélico d’Oliveira Neto; David Pacheco; Aleixo da Cunha; Sousa Bazílio; Cruz Malpique; António Rebelo Neves; Silva Pera; Manuel Alexandre; Francisco Fernandes Lopes; António dos Ramos Bentes; tenente-coronel José Guerreiro Fogaça; José Rebelo Neves; Vidal Belmarço; Ricardo Bensaúde; José de Sousa Gago.
Faltou por indisposição momentânea o Reitor, Dr. José Júlio Rodrigues, que só apareceu no fim do almoço, e faltou por doença o Dr. Silveira Ramos.
Para quem viveu nessa época, e felizmente ainda hoje contacta com a sociedade mais culta da cidade de Faro, ou para aqueles que conhecem minimamente a história da cultura algarvia, fácil se torna afirmar, e concluir, que no Liceu de Faro exerciam o múnus da docência uma verdadeira elite intelectual, que hoje facilmente se constituiria num escol científico do mais elevado nível universitário.
Os destaques deixámo-los para os que nos queiram interpelar sobre o assunto.

domingo, 6 de setembro de 2009

Esplanada de São Luís Parque, em Faro

Inaugurou-se em Faro no dia 1 de Julho de 1950 a esplanada “S. Luís Parque” mandada construir pela empresa do Cine-Teatro Farense, dotando assim a cidade de um espaço destinado privilegiado para a realização de espectáculos durante a temporada de verão, que decorria entre meados de Junho e finais de Setembro.
A localização, a extensão e comodidade do recinto permitiu às autoridades competentes na matéria qualificá-la como a melhor do país, tendo em consideração que reúne os meios necessários para a realização de todo o tipo de espectáculos, desde a projecção de cinema, a representação de peças de teatro, espectáculos desportivos (boxe, por exemplo) récitas estudantis, espectáculos de variedades, festivais de folclore, bailes, festas dos santos populares, etc. Em suma, previa-se que assumisse um papel fulcral nas actividades culturais e recreativas da cidade durante a época de verão, numa altura em que a indústria do turismo começava a dar os primeiros passos.
Para a festa da inauguração, realizada a 1 e 2 de Julho de 1950, organizou-se um programa festivo no qual tomaram parte a orquestra dirigida pelo maestro Fernando de Carvalho, as artistas Júlia Barroso (algarvia muito conhecida e apreciada), José António, Maria do Carmo, Maria Pazzo, Graciette Melo e Rui de Mascarenhas, num misto de fados e canções, tão do agrado popular. Para apresentar os artistas, animar o público e quebrar a saturação musical, actuaram também dois grandes artistas da rádio e conhecidos comediantes do teatro de revista, Humberto Madeira e Miguel Simões, que depois de fazerem algumas burlescas imitações de figuras populares, procederam a um hilariante “sketch” composto em verso, entre o “sr. Lucas e o Dr. Matias”, no qual retratavam num finíssimo humor negro algumas das mais conhecidas figuras da região. Os artistas eram acompanhados com solos de viola executados por Alfredo Costa. A noite encerrou com um animado baile.
O cinema em si só foi inaugurado a 3 e 4 de Julho com a projecção do célebre filme Joana d’Arc, interpretada pela consagrada artista Ingrid Bergman, que teve casa cheia, numa agradável noite, de amena temperatura, quase tropical.
Creio que, infelizmente, os nomes dos artistas aqui citados já não fazem parte do mundo dos vivos. Também infelizmente já não existe a magnífica esplanada de Faro, onde nos finais dos anos setenta ainda cheguei a ver algumas fitas, que por serem reprises tinham a plateia quase deserta. Também ali ouvi Júlio Iglésias num espectáculo memorável e também por ali passaram vários artistas da nossa moderna canção.
Esta pequena nota serve para avivar a memória dos farenses que na antiga esplanada viveram momentos de prazer e de felicidade, lamentando que no mamaracho denominado “Alhandra”, implantado naquele espaço, não exista um pequeno estúdio de cinema com o nome de “S. Luís Parque”.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Mulheres de Silves

Lord Carnarvon, que foi membro do Parlamento inglês e escritor consagrado, escreveu em 1836 acerca da beleza das mulheres algarvias as seguintes palavras:
«As mulheres de Silves, assim como as de todo o Algarve, são extremamente formosas de feições e muitas vezes também de figura: tez pálida mas clara, olhos ensombrados por longas pestanas negras e sempre belos, tendo quase sempre a distingui-los uma expressão pensativa e bondosa que se reflecte no sorriso, dando-lhe carácter. Os encantos das espanholas maravilham e atraem os olhares mas a beleza da algarvia, menos ardente, é dotada de mais ternura e nem por isso penetra menos fundo no coração

Em Tavira não se cospe no chão

A Câmara Municipal de Tavira, em Setembro de 1946, e depois de receber os pareceres favoráveis da Comissão Municipal de Higiene e do Conselho Superior de Higiene, aprovou um postura sanitária no sentido de reprimir o hábito condenável de cuspir nos passeios ou em qualquer via pública, assim como noutros locais de frequência e utilidade pública.
A mesma edilidade apresentou ao Ministério do Interior o texto da postura aprovada para que superiormente fosse a mesma convertida numa portaria de alcance nacional, por forme a erradicar tão reprovável e abjecto acto público.
Parece que a medida não teve o sucesso esperado, mantendo-se ainda hoje tão primitiva e vergonhosa atitude.

O Poeta das Aldeias – Domingos Guerreiro Basílio

J. C. Vilhena Mesquita

Uma das figuras hoje absolutamente ignoradas foi outrora considerado como o “Poeta das Aldeias”, epíteto conquistado com merecida justiça pela forma como este percorria as freguesias do extremo sotavento desafiando para verdadeiros combates poéticos, acompanhado à desgarrada por concertinas e cavaquinhos, aqueles que se arvoravam capazes de acompanhar ou competir com a sua repentina criatividade.
O homem que tinha o raro talento de improvisar quadras populares à velocidade de um fósforo, chamava-se Domingos Guerreiro Basílio, era um cidadão muito conhecido e admirado pela sua inteligência, honestidade e dedicação ao trabalho. E não se pense que no fim da vida era apenas uma figura típica, como aquelas que nas antigas feiras pontificavam pela sua excentricidade e submissão aos prazeres da bebida. Bem pelo contrário. Na pujança da idade foi um denodado republicano que lutou com todas as forças pela vitória dos ideais, chegando por várias vezes a desempenhar as funções de regedor da aldeia do Azinhal, onde residia, tendo mais tarde chegado aos bancos da edilidade de Castro Marim na qualidade de vereador.
Não era, pois, um obscuro habitante da ignorada freguesia do Azinhal no não menos ignorado concelho de Castro Marim. Os seus conterrâneos reconheciam-lhe qualidades e ouviam-lhe os concelhos. Porém , com o decorrer dos tempos, os anos começaram a pesar e a situação política alterou-se, a ponto do pobre Domingos Basílio se ter dedicado ao humilde mas honrado cargo de transportar as malas do correio entre Castro Marim e a freguesia de Odeleite. Uma espécie de carteiro dos tempos antigos, que não só levava a correspondência privada como também trazia as boas e más notícias. Era ele quem gritava os pregões das leis e decretos, quem citava os preços no mercado da vila, quem dava conselhos aos agricultores, anunciava as “sortes” aos mancebos, combinava negócios, escrevia cartas e tratava doutros documentos para os analfabetos... Enfim, era um sopro de vida e de civilização numa terra perdida num canto remoto do país profundo, um aglomerado de casas e um povo soturno, sacrificado e submetido às entediantes agruras duma agricultura de subsistência.
O velho republicano, esquecido de outras lides mais honrosas, deitou mãos à vida e transformou-se num simples carrejeiro, levando serra acima, os cereais e as viandas, os secos e molhados, os barris do vinho de Tavira e os almudes da cristalina medronheira serrana, para abastecer as mercearias e tabernas do raiano concelho.
Nos fragosos percursos das suas jornadas, deixou pelos valados das humildes estevas o eco da sua voz, em alegres quadras cantadas nas tabernas, nas feiras ou nos adros das ermidas, à compita com os destemidos cantadores locais, sob as saudáveis gargalhadas e os estridentes aplausos do povo, sempre acolhedor e generoso.
Foi no retorno de um desses trajectos, para a sua velha casa no Azinhal, que encontrou a morte num estúpido acidente. Uma queda aparatosa e desamparada roubou-lhe a vida aos 72 anos de idade.
As gentes serrenhas continuaram a venerar a memória do “Poeta das Aldeias” decorando-lhe os versos e cantando as suas quadras em modinhas populares, nos “bailos” e nos ranchos das raparigas solteiras.
Quem se lembra hoje desses tempos?..
Haverá por aí, no concelho de Castro de Marim, no seio do seu bom povo, quem ainda se lembre do “Poeta das Aldeias” ?
Aqui deixamos o desafia na expectativa de recuperarmos a sua memória e se possível algumas das suas quadras.

Pintores de temática algarvia


Inaugurou-se a 24-2-1946 no Museu Regional de Lagos uma exposição de Arte Algarvia na qual tomaram parte os pintores que mais e melhor usaram o Algarve como tema das suas produções artísticas.
Assim, e para que conste, estiveram patentes ao público 75 quadros da autoria dos seguintes pintores:
Alexandrina Chaves Berguer, Rosalina de Passos, Virgínia de Passos, Sylvia Aguiar Santos, Lázaro Velozo, Samora Barros, Carlos Porfírio, José Amado da Cunha, Joaquim de Passos, Carlos Lyster Franco, Falcão Trigoso, Serra da Motta, Fausto Sampaio, Gabriele Constante, Jayme Murteira e Ribeiro Cristino.
De todos estes os mais consagrados artistas, então já considerados mestres de pintura, devemos destacar as telas de Samora Barros, Falcão Trigoso e Serra da Motta, assim como os “carvões” de Lyster Franco. Agradaram ao público os quadros de Lazaro Velozo, Alexandrina Chaves Berger e os “apontamentos algarvios” de Jayme Murteira.

Naturalização de Cayetano Féu Marchena


No dia 31 de Março de 1930 o industrial espanhol no ramo das conservas, sediado em Portimão, Caetano Feu, ofereceu aos amigos e clientes um banquete servido no Grande Hotel das Caldas de Monchique, em sinal de congratulação pela sua naturalização como cidadão português.
Isto permite-nos compreender a sua satisfação por ter adquirido a nacionalidade portuguesa, ao mesmo tempo que se torna evidente o seu reconhecimento às autoridades regionais por terem certamente contribuído com declarações abonatórias para a sua naturalização. Como é lógico, também interessava ao industrial Caetano Feu deixar de ser espanhol para poder beneficiar dos privilégios de que gozavam os industriais nacionais, nomeadamente de carácter alfandegário e sobretudo fiscal.
No banquete realizado a 31-3-1930 no Grande Hotel das Caldas de Monchique, em homenagem ao Dr. Caetano Feu Marchena, estiveram presentes cerca de 80 pessoas de todos credos políticos e classes sociais. A opção daquelas termas deve-se ao facto do reputado industrial ter pugnado ao longo dos anos pelo desenvolvimento económico-industrial daquele concelho, pelo melhoramento do estabelecimento das Caldas Termais e pela divulgação dos seus efeitos terapêuticos. Na imprensa da época, nomeadamente no «Correio do Sul», descrevem-se vários pormenores da homenagem, assim como se transcrevem algumas das passagens dos discursos aí proferidos.